—
Eu sou inocente! – gritava Pietro na sala de interrogatório improvisada do
colégio – Será que o senhor não sabe que Ben era o meu melhor amigo?
—
Mas isso não o impede de mata-lo – retrucou o delegado Farias, da Divisão de
Homicídios de São Paulo. Era branco de aparentemente uns quarenta anos e
semblante jovial. Porém estava sério – Pelo modus
operandi, tenho quase certeza que você tem certeza que você tem algo a ver
com isso.
Pietro
ficava cada vez mais confuso. Além de abalado pela morte do amigo, estava com
medo de tantas perguntas feitas pelo delegado. Não sabia nada sobre o
assassinato, ainda mais sobre o M.O.
—
Como assim?
—
O corpo do Alencar tinha sangue saindo por todos os orifícios, indicando
envenenamento por soda cáustica – relatou Farias, olhando Pietro nos olhos
profundamente – Além disso, havia perfurações por todo o seu corpo feitas por
uma espécie de vidro.
O
jovem começou a sentir náuseas. Virou o rosto a fim de tentar apagar da sua
mente aquela imagem horrenda de seu melhor amigo morto daquele jeito. A sala
pra ele começou a girar, até que não aguentou mais e vomitou pelo chão.
—
Desculpe-me, delegado – Pietro falou, chorando – Eu não aguento mais. Sempre
fui o odiado do internato e tudo recai sobre mim. Agora que acabo de perder meu
amigo, o que vou fazer da minha vida?
Comovendo-se
com o jovem, o delegado Farias tocou o seu ombro.
—
Está dispensado por hora. Porém não tente me passar a perna. Entendeu?
Pietro
nem respondeu. Apenas saiu da sala, engolindo os soluços. Logo após entrou a
madre Evarista, muito aflita.
—
E então, delegado? – perguntou ela, querendo saber acerca do depoimento.
—
Ou ele é inocente, ou é o melhor ator que eu já vi em toda a minha carreira.
Já
eram tarde da noite e Pietro estava acabado. Não podia acreditar no que
ocorrera até agora. Um homicídio em um internato religioso? Ninguém imaginaria umas
coisas dessas. O jovem dirigiu-se ao Quarto do Controle para tentar colocar a
cabeça no lugar. Chegou ao quarto, tomou uma ducha e vestiu seu pijama e logo
após deitou-se naquela cama nada confortável. Foi quando começou a escutar
passos ao redor de sua cama. Pietro sentou na cama rapidamente, aflito. Estava
suado e um pouco tonto.
—
Alguém aí? – perguntou ele, olhando para todos os lados.
Pietro
sentiu os passos aproximarem-se e todo o seu corpo arrepiou-se, até que uma
batida na porta fez com que ele pulasse da cama e fosse em direção a ela. Ficou
com receio de abrir, porém ao ver quem era, uma sensação de felicidade o tomou.
—
Precisava te ver, Pietro – falou Vanessa, olhando para ela de cima para baixo –
Nossa, você está péssimo!
—
Não está sendo fácil – o garoto deu um sorriso amarelo – Ben está morto, eu
estou preso nesse lugar horrível e ainda por cima sou o principal suspeito. Ah!
Entra!
Vanessa
entrou no quarto. Ela, de robe, sentou na cama, enquanto Pietro fechou a porta
e sentou ao seu lado.
—
Pois é sobre isso que eu quero falar – disse Vanessa, puxando assunto – Eu acho
que o Ben pode estar vivo.
—
Como assim? – ele estava transtornado – O policial me disse que a vítima era
Benjamim Santos Alencar
—
Mas você viu o corpo? Além disso ninguém sabe de nada acerca da investigação.
Tá tudo muito secreto.
—
Você tá achando que o internato está por trás disso tudo? – perguntou Pietro
num tom de deboche.
—
Tudo pode acontecer. Mas o que me preocupa é que o Edgar, Escote e o Roque
estão sumidos. Ou eles podem ser suspeitos...
—...
Ou vítimas.
—
A propósito, onde você estava na hora que o “Ben” – ela fez o sinal de aspas –
morreu?
Pietro
foi pego de surpresa. Até Vanessa suspeitava dele? Não, ele preferiu pensar que
ela está perguntando pela simples curiosidade.
—
Tinha que resolver uns negócios no laboratório – desconversou o jovem – E como
vai o namoro?
—
Edgar é passado. Preciso de um garoto que me entenda e goste de mim do jeito
que eu sou. Como você, Marques. E vendo pelo que tudo passou, vejo que você é
um garoto muito corajoso.
A
surpresa foi inevitável. Pietro foi tomado por um desejo que não sentia a muito
tempo.
—
Era tudo que eu queria escutar.
O
casal ficou olhando-se por alguns segundos, até que Pietro partiu pra cima,
beijando-a sutilmente.
—
Pietro, não me sinto muito à vontade sabendo que um de nossos amigos pode estar
morto e também..
—
Shhh... – interrompeu Pietro – Não se preocupe. Vamos nos sair bem dessa. Todos
nós.
Pietro
e Vanessa na cama e os dois voltaram a se beijar mais forte. Um misto de medo e
pressa pelo tempo perdido, agravados pelo perigo no ar transformavam a aflição
dos jovens em desejo. Foi quando alguém bateu na porta.
—
O Ben está vivo! – gritou Zaque, soltando logo a bomba.
Antes
que Pietro pudesse dizer alguma coisa, Ben apareceu em sua frente, com a
expressão triste, dando-lhe um abraço.
—
Você não sabe o que aconteceu comigo, cara!
—
Como é bom te ver cara – respondeu ao abraço do amigo.
Os
dois amigos entraram e Vanessa entrou em choque com a situação. Os quatro entre
olharam-se, sem saber o fazer.
—
É uma longa história – foi a única coisa que Pietro conseguiu dizer.
—
Assim como o fato de descobrirmos quem realmente está morto – falou Ben,
mudando o tom da conversa.
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