Contos Embaralhados

terça-feira, 4 de outubro de 2011

♠ O Odiado - SOS: Ele está disfarçado (Capítulo 4)


— Eu sou inocente! – gritava Pietro na sala de interrogatório improvisada do colégio – Será que o senhor não sabe que Ben era o meu melhor amigo?
— Mas isso não o impede de mata-lo – retrucou o delegado Farias, da Divisão de Homicídios de São Paulo. Era branco de aparentemente uns quarenta anos e semblante jovial. Porém estava sério – Pelo modus operandi, tenho quase certeza que você tem certeza que você tem algo a ver com isso.

Pietro ficava cada vez mais confuso. Além de abalado pela morte do amigo, estava com medo de tantas perguntas feitas pelo delegado. Não sabia nada sobre o assassinato, ainda mais sobre o M.O.
— Como assim?
— O corpo do Alencar tinha sangue saindo por todos os orifícios, indicando envenenamento por soda cáustica – relatou Farias, olhando Pietro nos olhos profundamente – Além disso, havia perfurações por todo o seu corpo feitas por uma espécie de vidro.
O jovem começou a sentir náuseas. Virou o rosto a fim de tentar apagar da sua mente aquela imagem horrenda de seu melhor amigo morto daquele jeito. A sala pra ele começou a girar, até que não aguentou mais e vomitou pelo chão.
— Desculpe-me, delegado – Pietro falou, chorando – Eu não aguento mais. Sempre fui o odiado do internato e tudo recai sobre mim. Agora que acabo de perder meu amigo, o que vou fazer da minha vida?
Comovendo-se com o jovem, o delegado Farias tocou o seu ombro.
— Está dispensado por hora. Porém não tente me passar a perna. Entendeu?
Pietro nem respondeu. Apenas saiu da sala, engolindo os soluços. Logo após entrou a madre Evarista, muito aflita.
— E então, delegado? – perguntou ela, querendo saber acerca do depoimento.
— Ou ele é inocente, ou é o melhor ator que eu já vi em toda a minha carreira.
Já eram tarde da noite e Pietro estava acabado. Não podia acreditar no que ocorrera até agora. Um homicídio em um internato religioso? Ninguém imaginaria umas coisas dessas. O jovem dirigiu-se ao Quarto do Controle para tentar colocar a cabeça no lugar. Chegou ao quarto, tomou uma ducha e vestiu seu pijama e logo após deitou-se naquela cama nada confortável. Foi quando começou a escutar passos ao redor de sua cama. Pietro sentou na cama rapidamente, aflito. Estava suado e um pouco tonto.
— Alguém aí? – perguntou ele, olhando para todos os lados.
Pietro sentiu os passos aproximarem-se e todo o seu corpo arrepiou-se, até que uma batida na porta fez com que ele pulasse da cama e fosse em direção a ela. Ficou com receio de abrir, porém ao ver quem era, uma sensação de felicidade o tomou.
— Precisava te ver, Pietro – falou Vanessa, olhando para ela de cima para baixo – Nossa, você está péssimo!
— Não está sendo fácil – o garoto deu um sorriso amarelo – Ben está morto, eu estou preso nesse lugar horrível e ainda por cima sou o principal suspeito. Ah! Entra!
Vanessa entrou no quarto. Ela, de robe, sentou na cama, enquanto Pietro fechou a porta e sentou ao seu lado.
— Pois é sobre isso que eu quero falar – disse Vanessa, puxando assunto – Eu acho que o Ben pode estar vivo.
— Como assim? – ele estava transtornado – O policial me disse que a vítima era Benjamim Santos Alencar
— Mas você viu o corpo? Além disso ninguém sabe de nada acerca da investigação. Tá tudo muito secreto.
— Você tá achando que o internato está por trás disso tudo? – perguntou Pietro num tom de deboche.
— Tudo pode acontecer. Mas o que me preocupa é que o Edgar, Escote e o Roque estão sumidos. Ou eles podem ser suspeitos...
—... Ou vítimas.
— A propósito, onde você estava na hora que o “Ben” – ela fez o sinal de aspas – morreu?
Pietro foi pego de surpresa. Até Vanessa suspeitava dele? Não, ele preferiu pensar que ela está perguntando pela simples curiosidade.
— Tinha que resolver uns negócios no laboratório – desconversou o jovem – E como vai o namoro?
— Edgar é passado. Preciso de um garoto que me entenda e goste de mim do jeito que eu sou. Como você, Marques. E vendo pelo que tudo passou, vejo que você é um garoto muito corajoso.
A surpresa foi inevitável. Pietro foi tomado por um desejo que não sentia a muito tempo.
— Era tudo que eu queria escutar.
O casal ficou olhando-se por alguns segundos, até que Pietro partiu pra cima, beijando-a sutilmente.
— Pietro, não me sinto muito à vontade sabendo que um de nossos amigos pode estar morto e também..
— Shhh... – interrompeu Pietro – Não se preocupe. Vamos nos sair bem dessa. Todos nós.
Pietro e Vanessa na cama e os dois voltaram a se beijar mais forte. Um misto de medo e pressa pelo tempo perdido, agravados pelo perigo no ar transformavam a aflição dos jovens em desejo. Foi quando alguém bateu na porta.
— O Ben está vivo! – gritou Zaque, soltando logo a bomba.
Antes que Pietro pudesse dizer alguma coisa, Ben apareceu em sua frente, com a expressão triste, dando-lhe um abraço.
— Você não sabe o que aconteceu comigo, cara!
— Como é bom te ver cara – respondeu ao abraço do amigo.
Os dois amigos entraram e Vanessa entrou em choque com a situação. Os quatro entre olharam-se, sem saber o fazer.
— É uma longa história – foi a única coisa que Pietro conseguiu dizer.
— Assim como o fato de descobrirmos quem realmente está morto – falou Ben, mudando o tom da conversa.


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