Félix continuava estático, na sala, de frente para Sara, com a sua faca na mão. Ela, apavorada, tentava entender toda a situação. Sabia que sua hora um dia poderia chegar. “Mas Félix? Como foi capaz de fazer todas essas coisas?”
_ O que você fez com os outros?
_ O mesmo que vou fazer com você: nada! – respondeu, com um sorriso desconcertante.
_ Pare de ser cínico, garoto! – gritou Sara, aproximando-se dele, perdendo o medo – Depois de tudo que passamos...
_ E eu te agradeço por tudo, amor – Félix falava, dando voltas em Sara – Já te disse que fica muito sexy quando está brava?
_ Chega! Seu pervertido! – ela deu uma tapa na cara do garoto.
Félix passou a mão em seu rosto dolorido. “Sara realmente não entende o que eu quero”, pensou. Sua expressão era sarcástica.
_ Calma, gata – agora era ele quem se aproximava. Estava a poucos palmos do rosto de Sara – Quero um favor seu – começou a tocar seus cabelos – Vale sua vida.
_ O que quer que eu faça? – perguntou, parada de frente para Félix. Por incrível que pareça, ela não se afastou, como se algo em nele ainda a atraísse.
_ Quero que... – Félix a beijou e começou a falar entre os beijos –... Você vá... – ele foi empurrando-a até a parede –... Embora!
_ O quê? – Sara caiu em si – Como assim?
_ Preciso de platéia – riu, enfiando a faca na mesa, fazendo com que Sara pulasse de susto – Fuja e chame socorro, Raymond ainda pode estar vivo.
Ela estava confusa, era capaz de sentir todos os sentimentos – o medo de ser morta, o desejo de achar os outros, e a atração por Félix. E agora ficava com mais uma dúvida: “Félix era realmente o assassino?” E era isso que ele queria – gerar dúvida.
_ Por que está fazendo isso? E como vou fugir?
_ Digamos que eu aprecio sua vida. Pegue uma canoa, que está perto da lagoa leste.
_ Mas...
_ Vá! – gritou Félix, já perdendo a paciência – Antes que eu te mate!
Sara saiu da casa correndo, sem saber o que pensar. Se realmente fugia ou tentava trapacear, procurando Ray e Abby. Pensando que Félix não perceberia, decidiu seguir o caminho do galpão de alimentos. Foi andando a passos rápidos, como de que ele pudesse estar atrás dela.
Enfim chegou ao local do galpão e ficou parada na porta, receosa de entrar. O lugar parecia um típico galpão de filme de terror – paredes encardidas, janelas quebradas e um silêncio irritante. Porém a sua curiosidade a desafiava novamente. Logo ela entrou, empurrando a porta antiga. Agora em passos lerdos adentrava o galpão, que estava frio, escuro e muito sujo. “Agora sinto o que Henry sentiu”. Continuou andando, em certos momentos sentindo calafrios. Ao chegar ao centro, surpreendeu-se com uma luz, que clareava uma espécie de altar.
“Que droga é essa?” Sara foi aproximando e notou algo. Havia uma garota deitada no altar improvisado, com um vestido branco e longo. Era Abby, inconsciente. Pensou em chegar mais perto, mas foi mais uma vez surpreendida:
_ Vejo que não dá valor à vida, não é... Sara? – falou uma voz, que não era a de Félix.
_ Sei que não é o Félix! – gritou Sara, gelada – Apareça!
A silhueta foi revelando-se pouco a pouco.
_ Quem é você?
_ Olá, meu nome é Oliver – respondeu, rindo – Que pena que você não me conhecerá por muito tempo.
Ele partiu correndo para pegar Sara que não teve como escapar. Oliver a segurou pelos cabelos, jogando-a no chão.
_ Tudo aqui está tão previsível – disse, enquanto pegava uma faca, que estava pendurada em sua cintura.
Porém Oliver foi impedido, no momento em que Félix chegou.
_ Espere, Oliver! – gritou de longe – Tenho algo melhor para ela.
_ Pode deixar, comandante – parou Oliver, rindo.
Félix foi em direção a uma estante, que ficava no canto do galpão e pegou um garrafão de plástico.
_ O que você vai fazer comigo? – gritava Sara, impaciente e com muito medo – Seu falso, idiota, besta...
_ Vamos poupar com os elogios – interrompeu Félix, mostrando-se paciente, chegando onde Sara estava amarrada – Oliver, leve-a para fora antes que acorde a Abby.
Oliver a puxou pelos cabelos novamente, jogando-a do lado de fora de galpão.
_ Me soltem! – Sara caiu no chão, machucando-se.
O garrafão estava cheio de álcool e Félix tinha um plano de pegar fogo.
_ Nos deixe a sós Oliver – avisou Félix e depois disse algo em seu ouvido.
_ Félix, por favor, pare! – suplicou Sara, enquanto ele derramava o álcool em seu corpo.
_ É uma pena que tenha que acabar assim.
O garoto puxou um fósforo de seu bolso, acendeu e jogou-o sobre a garota. Ela gritava, enquanto sua pele virava material para a combustão. Félix olhava-a nos olhos, admirando o show de horror que se criara diante dele. Os gritos ficaram insuportáveis e Félix para acabar com o barulho jogou o garrafão inteiro.
_ Sempre achei que você tinha um fogo – disse, rindo enquanto a garota queimava em segundos.
Terminado o “serviço”, Félix dirigiu-se ao “altar” em que Abby adormecia com o seu vestido branco e longo que contornava seu corpo.
_ Abby, acorde – sussurrou ele ao lado dela – Você está bem?
_ Félix – murmurou Abby enquanto tentava se levantar, ainda tonta – Você está vivo.
_ Nós estamos! – começou a passar a mão em seu cabelo – Vamos embora.
Abby achara tudo muito estranho. Por que ela estava ali? Com aquele vestido? E cadê o resto do pessoal?
_ Onde está o Ray?
Félix sentiu a raiva invadir o seu corpo. Pensou em acabar com sua própria vida. E a dela também. Como pode lembrar-se daquele miserável? Como pôde deixá-lo assim? Mas era melhor não. O momento era perfeito para confessar:
_ Eu te amo, Abby. De verdade, tudo o que fiz foi por você.
Abby levantou-se assustada.
_ O que você fez realmente?
_ Nos deixei a sós – riu ele, inocentemente – Lembra daquela vez que você me disse que “Só deveriam existir pessoas como nós”?
Ela lembrou-se do fato: no 1º ano, quando havia brigado com Raymond pela primeira vez. Ela estava acabada emocionalmente e Félix foi o único a ampará-la. Mas com certeza não fora nesse sentido que Abby queria dizer. Ela levantou-se chorando, tentando fugir, mas Oliver, que estava na porta, segurou-a.
_ Calma Abby, você está a salvo – falou Oliver, baixinho.
_ Foi você! – gritou ela ao olhar para o rosto sério de Oliver – Seu assassino! Por que matou o Ray?
_ Ele que procurou – explicou, enquanto ainda segurava Abby nos braços – Sabe o quanto aqueles atletas infernizaram meu relacionamento com a Kelly?
A garota espantara-se com tamanha frieza. Ela afastou-se de Oliver, recuando. O mau cheiro penetrava nas suas narinas.
_ Eu quero saber a verdade.
Félix e Oliver explicaram tudo para Abby. Contaram que o assassinato de Robert não tivera nada a ver com o que Félix planejara. Foi uma questão pessoal de Oliver, que queria vingar-se pelo seu namoro.
_ Tudo simetricamente planejado – disse Felix, que se localizava atrás dela – Jovens são tão impulsivos. O esquartejamento foi idéia minha, caso queira me dar crédito – riu ele, cinicamente – Todos tão bêbados no ônibus que foi moleza executar o plano. E enquanto vocês pensavam que estavam vivendo os “Jogos Mortais”...
_ Nós agíamos de modo imperceptível – completou o verdadeiro amigo de Félix – Max, Henry, Kate e todos os outros foram somente efeitos colaterais.
Diante de todo aquele quadro Abby realmente desejou morrer. Nunca havia visto tanta frieza em sua vida.
_ Vocês são doentes! – ela correu tentando procurar saída. Fugiu pelos fundos do galpão.
_ Abby!
Félix seguiu-a. Não podia deixar seu grande amor fugir assim. Ela corria floresta adentro, ultrapassando arbustos e árvores. Chegou à corredeira 130, ficando sem saída.
_ Abby, pare! Não pule, por favor!
Abby abriu os braços, ameaçando pular. Félix entrou em pânico, tentando impedi-la. O clima era de tensão total. Félix suava frio, apavorado. Todo seu trabalho podia ser jogado fora com um simples passo.
_ Adeus, Félix.
Ela saltou, e ele não podia suportar essa dor. O garoto saltou logo em seguida, em busca do amor imortal. Seus corpos caíram, juntamente com o de Raymond. Podiam estar vivos ou mortos. E Oliver ficara vagando pela floresta, totalmente sozinho.
Oito jovens e um adulto supostamente mortos principalmente pela explosão de sentimentos: amor, frustração e ódio. Gerados por uma paixão não correspondida e uma traição.
Fim.